A Conferência Anual do Conselho Federal de
Biblioteconomia dos Estados Unidos 2012
ALA - American Library Association
por Milly Pannunzio
Todo ano a Associação Americana de Bibliotecônomia organiza um grande evento para
atualizar o conhecimento e a prática profissional de bibliotecários de todas as categorias,
conforme a demanda da atual sociedade.
Este ano a conferência foi em Anaheim, na California e uniu por volta de 25.000
bibliotecários, educadores, autores, editoras, alfabetizadores, fornecedores, entre outros.
Centenas de palestras, oficinas, debates, entre outros programas, foram oferecidos para
incentivar e guiar os profissionais da área a inovar e transformar a biblioteca.
Adicionar livros eletrônicos à coleção, desenvolver o pensamento crítico no usuário,
introduzindo novos recursos tecnologicos, a internet e os direitos autorais, o bibliotecário
como lider treinando professores quanto ao uso de recursos tecnológicos e
informacionais, a biblioteca virtual, o impacto que a biblioteca pode causar na educação e
muitos outros temas, foram discutidos e praticados.
Por estar trabalhando em uma escola que investe algum recurso no desenvolvimento
profissional de seus educadores, tive a oportunidade de participar a algumas semanas
deste importante evento na área de biblioteconomia nos Estados Unidos. Como
bibliotecária escolar escolhi participar de seções que poderiam me ajudar a elaborar
estratégias para melhor atender as necessidades dos alunos e professores; a favorecer e
melhorar o ensino e a aprendizagem dentro da escola através de ações dentro da
biblioteca. Achar soluções, agir, inovar, transformar.
Um dos grandes desafios que nós bibliotecários escolares enfrentamos, é sermos aceitos
pelos professores como parceiros capazes de colaborar com o ensino e a aprendizagem.
Com isso, muitas vezes de māos atadas, assistimos de camarote a deficiência dos alunos
em certas etapas da pesquisa, como na busca, seleçāo e citaçāo. Muitos professores
afirmam estar ensinando o aluno a pesquisar, no entanto o problema de plágio, do copiar
e colar informaçāo da internet dentro das escola, chega a ser preocupante. Alunos
utilizam a informaçāo de qualquer website que lhes pareçam satisfatórios, sem a
preocupaçāo em saber quem é o autor e se a informaçāo dada está correta, se é um fato
ou um ponto de vista. Univesidades do mundo todo afirmam que a grande maioria dos
alunos chegam sem muitas noções de como buscar informaçāo e utilizar fontes variadas,
como evitar o plágio, como usar informaçāo de modo ético e responsável. Esta questāo é
séria e o bibliotecário ao elaborar um programa e ao colaborar com o professor, pode
mudar isso.
Em todas as seções que participei o bibiliotecário é colocado como um lider, um educador
que pode colaborar com o desenvolvimento profissional do professor; que pode e muito,
contribuir para melhorar o desempenho acadêmico do aluno. Este profissional,
especializado em pesquisa, precisa estar atento e sempre procurando novos
conhecimentos principalmente no que se refere as novas tecnologias, as novas
estratégias de pesquisa, ao ensino e a aprendizagem. Precisa estar sempre em evidência
e pronto para agir, para colaborar. Precisa promover suas práticas, mostrar como ele pode
ajudar. Participar de reuniões de professores, e estar a par do currículo escolar. Saber o
que cada professor está trabalhando em sala de aula e oferecer opções para enriquecer
as aulas, para ampliar o conhecimento do aluno no que diz respeito as etapas da
pesquisa. A administraçāo da escola precisa reconhecer este parceiro e favorecer sua
colaboraçāo. Assistentes sāo necessários dentro da biblioteca para que o bibliotecário
tenha mais tempo para participar e realmente contribuir com a área acadêmica. E isto é o
que todos falam nos Estados Unidos, Europa, Brasil. Precisamos rápido transformar a fala
em ações e muitas seções da conferência davam dicas, idêias, estratégias de como o
bibliotecário poderia transformar sua prática e a biblioteca.
Numa das seçōes que participei e que mais gostei, o tema abordava diversas maneiras
de atrair o professor para aprender conosco e se desenvolver profissionalmente. Nosso
papel de lider. A necessidade de entendermos o professor, de aprendermos a analizar o
perfil dele, a entendermos seu dia a dia. Como ensinar um especialista, como lidar com o
pouco tempo (nosso e deles), como lidar com nossos próprios limites, como ser flexivel, e
por aí foi.
Nas escolas americanas cada profissional recebe um recurso financeiro extra que deve
ser direcionado apenas ao Desenvolvimento Profissional (DP). Participar de conferências
e palestras, fazer cursos, entre outros. Esta é uma oportunidade para o bibliotecário agir
como lider. Algumas escolas americanas exigem 60, 80 horas anuais de DP e
bibliotecários destas escolas afirmam que os professores participam de todas as
atividades que eles oferecem depois do horário de aula para cumprir as horas
necessárias ao DP. Treinar o professor a usar bancos de dados, a avaliar um website para
ter certeza de que é confiável, a utiliazar o catálogo virtual e maneira eficiente, a utilizar o
recurso de busca avançada do Google, a utilizar ferramentas tecnológicas para organizar
e/ou apresentar um trabalho, a entender como lidar com os direitos autorais dentro e fora
da sala de aula, etc., sāo alguns exemplos de práticas de bibliotecários como lideres.
Nas escolas brasileiras ainda temos que caminhar bastante mas já demos os primeiros
passos e vamos continuar mudando, agindo, avançando.
Em outra seçāo discutimos estratégias para avaliar a atual situaçāo de sua biblioteca e a
partir dalí, pensamos em planos de açāo para mudar, melhorar, inovar, transformar. Nos
critérios de avaliaçāo incluimos questões como: o que está funcionando agora?, o que
pode melhorar?, o que devo implantar? Quais sāo as barreiras? Como posso superá-las?
O que posso fazer agora?, O que posso deixar para mais tarde? Como e quanto minhas
ações beneficiam os usuários?
Penso que seria construtivo direcionarmos estas perguntas para diversas ações dentro da
biblioteca como a Organizaçāo, a Comunicaçāo, as Atividades. No que se refere a
organizaçāo avaliaria as seções da biblioteca, os livros, periódicos, audiovisual nas
prateleiras, o esquema de empréstimo, as tarefas do dia a dia, o espaço físico. Na
comunicaçāo penso na avaliaçāo e num plano de açāo nāo apenas para melhorar o
relacionamento e a colaboraçāo com os professores e alunos, como tambem para
identificar se meus usuários entendem como a biblioteca está organizada ou se devo
simplificar ou facilitar algo para ajuda-los a localizar a informaçāo desejada mais
rapidamente; se eles estāo cientes de tudo que a biblioteca e o bibliotecário pode
oferecer, todos os serviços, todos os recursos disponíveis. Quanto as atividades me refiro
a avaliaçāo de todas as ações que possam melhorar o desempenho do aluno em todas
as etapas da pesquisa (reconhecer, buscar, selecionar, ler, transformar, organizar, citar,
apresentar, autoavaliar), a usar eficientemente fontes de informaçāo impressas e
eletrônicas, a incentivar e apreciar a leitura, a atrair o usuário para utilizar o ambiente da
biblioteca para aprendizagem e entretenimento. O que está bom?, o que pode melhorar?,
como podemos inovar?
Um questionário também seria uma ótima maneira de avaliarmos e de coletarmos
evidências da necessidade, ou não, de mudanças. Os alunos e professores usam a
biblioteca? Com que frequência? Para que? Na opiniāo deles o que está bom? O que
pode melhorar?
Temas como a implantaçāo de livros eletrônicos, o uso de ferramentas tecnológicas para
promover livros e atividades e para organizar e compartilhar informaçāo, o uso ético e
responsável da Internet, o uso eficaz e eficiente de bancos de dados, as necessidades e
interesses das novas gerações, o impacto que a biblioteca escolar pode promover na
educaçāo, foram centrais na conferência.
Como já é sabido o computador está transformando a sociedade com seus avançados
meios de comunicaçāo e ele veio para ficar. Nunca tivemos tantos recursos
informacionais como hoje e a educaçāo tem muito a se beneficiar com isso. O
bibliotecário, entre tantos avanços tecnológicos e entre tanta informaçāo disponível,
precisa estar atualizado, conectado, pronto para oferecer novos serviços. Ensinar como
buscar rapidamente informaçāo confiável na internet, ensinar como e o quão importante é
dar crédito à autores e como fazer isso durante todo o processo da pesquisa.
Trocando idéias e experiências com bibliotecários americanos, pude confirmar que
nossas preocupações, barreiras (financeira, administrativa, entre outras), sonhos (acesso
à internet para todos, mais recurso financeiro, mais computadores na biblioteca...), limites,
entre outros, sāo muito semelhantes. Assim como as nossas, muitas bibliotecas
americanas tem acesso limitado a internet. A maioria dos bibliotecários americanos tem
dificuldade para ser aceito como parceiro do professor e colaborar com a aprendizagem
do aluno. Muitos, por falta de recursos financeiros e/ou falta de apoio da administraçāo da
escola, ainda nāo introduziram livros eletrônicos a coleçāo, nāo possuem um bom sistema
de organizaçāo online, nāo podem atualizar a coleçāo de acordo com o currículo.
Os americanos nos superam no que diz respeito à divulgaçāo e publicaçāo de suas
atividades dentro da escola. Existem centenas de grupos de discussāo e troca de
experiência online, centenas de livros e revistas impressas e eletrônicas sobre a
biblioteconomia de hoje, sobre a integraçāo da educaçāo com a biblioteconomia e a
tecnologia. Com essa facilidade de comunicaçāo, eles me pareceram mais unidos,
lutando, aprimorando o conhecimento. Estāo interessados em aprender a lidar com as
novas tecnologias, estāo lendo, conversando, dividindo experiências, estāo procurando
alternativas, crescimento, soluções.
Mesmo que umas bibliotecas escolares tenham mais recursos do que outras, estamos
todos no mesmo barco. Precisamos todos ler muito sobre a biblioteconomia de hoje,
sobre as novas gerações de usuários; precisamos usar novas tecnologias e novos
recursos informacionais.
Precisamos conversar mais, discutir nossa prática, aprender, nos fortalecer, inovar nossas
ações, dar o acesso, transformar nossas bibliotecas. Precisamos escrever, divulgar em
revistas nossas ações dentro da escola, ser criativos, achar soluções para superar
barreiras. Precisamos mostrar como podemos fazer a diferença na educaçāo.
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